FERTILIZANTES – RUMO AO PNF EM 2022

Fertilizantes

Os fertilizantes que usamos no Brasil são, em grande parte, importados da Rússia e de Belarus. Com isso, a invasão russa à Ucrânia trouxe preocupações a respeito do fornecimento do produto. A situação motivou o Governo Federal a lançar o PNF (Plano Nacional de Fertilizantes), que visa reduzir a dependência brasileira de importações do insumo. Para isso, ele dá atenção especial ao desenvolvimento de tecnologias adequadas ao ambiente tropical. 

Como contamos no Boletim Agrivalle Markets 04, o plano traz oportunidades para bioinsumos e biomoléculas, remineralizadores, fertilizantes orgânicos e organominerais, entre outros. Além disso, deve trazer facilidades na política fiscal, linhas de financiamento, logística nacional etc.

Com novas possibilidades à vista, é importante saber dos fatos e impactos relacionados ao  fornecimento destes produtos. O histórico da Agrivalle no desenvolvimento de bioinsumos permite que uma visão ampla do tema, que dividimos com você aqui.

DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL NO CENÁRIO DOS FERTILIZANTES: FATOS E IMPACTOS
ONDE ESTAMOS? ANÁLISE EXTERNA E INTERNA

    • DADOS DE MERCADO: a produção do agro brasileiro cresce, e a origem interna de produtos não. Do consumo estimado em 42 milhões de t, cerca de 33 milhões são importados (80%). 
    • ANDA: maiores consumidores mundiais são China, Índia e EUA. O Brasil é o quarto colocado, mas o maior importador de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), com parcelas de importação de 94% em K, 55% em P e 76% em N das necessidades;
    • Brasil consome 8% do fertilizante mundial. 25% das nossas compras se originam no Leste Europeu. O Brasil tem solos pobres em comparação a seus concorrentes;
    • A Rússia tem cerca de 16% de market-share nas exportações de fertilizantes. É muito forte na produção de nitrogenados (segundo exportador) e fosfatados e potássicos (terceiro maior).
    • PROBLEMAS DE OFERTA: unidades na Ucrânia parando de produzir (Odessa Port Plant, que fazia cerca de 1 milhão de t de amônia parou por falta de insumos) e outras na Europa devido aos preços do gás. Gás subiu mais de 50% na Europa, impactando as produções locais de fertilizantes, principalmente os nitrogenados e fosfatados. Energia subindo, fábricas podem diminuir produção.
    • PROBLEMAS DE TRANSPORTE: dificuldades de operação no Mar Negro e no corredor logístico da Lituânia, que teria fechado com o embargo, dificultando as exportações de Belarus. Risco de greve na ferrovia do Canadá preocupa, o que prejudicaria o abastecimento de K e N. Preços dos fretes internacionais voltam a crescer, com a explosão do petróleo. 
    • PROBLEMAS DOS EMBARGOS E PAGAMENTOS: retirada da Rússia do sistema SWIFT dificulta o processo de trocas, mas existem alternativas (SPFS Russa e sistema da China).
    • ESTOQUES NO BRASIL: seriam suficientes para três meses (níveis acima de anos passados – ANDA).
    • Transporte de fertilizantes e entrada no Brasil, logísticas são complexas e muitas vezes operam no limite. 
    • Nitrato de amônio do Brasil: quase tudo vem da Rússia. Cloreto de Potássio também será problema. Empresas no Brasil sem ofertas e sem listas de preços.
    • Preços explodem: importações em janeiro e fevereiro foram de 5,25 mi t (8,2% a menos) mas o custo foi de US$ 2,8 bilhões (130% acima). Antecipação de compras está menor em 2022 (cerca de 30%);
    • Ficam em xeque as políticas “just in time” e de especialização na produção;
    • IMPACTOS EM GRÃOS: Preços altos estimularão o plantio e o aumento de áreas, mas tem o stress de insumos. Observar plantio nos EUA. 
    • Continuidade da invasão e como serão as operações agrícolas na Ucrânia, afinal abril é início do plantio;
    • Com embargos e dificuldades operacionais na Ucrânia, China pode vir buscar mais do Brasil;
    • Graves impactos para a inflação no mercado interno, com custos de produção das rações explodindo e com isto prejudicando leite, carne, ovos e outros que dependem dos grãos.
    • QUESTÕES DE INTERFERÊNCIA:
    • Qual o tempo de duração da invasão, de sanções comerciais e seus impactos nas trocas globais?
    • Petróleo a mais de USD 100/barril: quanto tempo dura e qual a reação da oferta?

ATOS… AÇÕES NECESSÁRIAS NO CENÁRIO DOS FERTILIZANTES
ESTRATÉGIAS DE CURTO, MÉDIO E LONGO PRAZO

  • USO DE PRODUTOS ALTERNATIVOS: biológicos, biofertilizantes e outros receberão grande impulso; não só por todas as vantagens que já naturalmente apresentam, mas também agora por conta da escassez e altos custos dos insumos tradicionais. Mercado deve dar um boom!
  • EFICIÊNCIA NO USO E APLICAÇÃO (TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO): Embrapa lança caravana técnica (FertBrasil) para ajudar a economizar US$ 1 bilhão em fertilizantes, com objetivo de aumentar de 60% para 70% a eficiência na forma de usá-los. Fortalecer a prática de análise de solo, incentivar agricultura regenerativa, treinamento para produtores, cooperativas e associações. Outra frente é na busca de alternativas para reduzir em 25% as importações até 2030. São cinco dimensões: biofertilizantes (bactérias, fungos e outras alternativas), organominerais (combinação de fertilizante mineral com fontes orgânicas/esterco), fertilizantes nano estruturados (liberação mais lenta e controlada dos nutrientes), agricultura de precisão (redução de desperdícios, aplicar apenas onde precisa) e condicionadores de solo com pó de rocha.
  • INVESTIMENTOS NO BRASIL: acelerar produção de fertilizantes potássicos em MG (São Gotardo) de 1,2 milhão de t/ano no 3° tri deste ano para 3 milhões de t/ano, entre outros.
  • INVESTIMENTOS EM P&D: startups e nanotecnologia para mais adubação foliar entre outras tecnologias receberão grande impulso.
  • PLANO ESTRATÉGICO: – baseado em alguns grandes pilares: aumento da capacidade interna (o plano do Governo é o de reduzir a dependência de quase 85% para cerca de 45% em 30 anos, divididos em quatro principais tipos: os nitrogenados, os de fósforo, os potássicos, e os chamados de “cadeias emergentes” onde entrariam os biológicos; analisar as capacidades em países vizinhos e diversificar os países fornecedores mundiais. Potássio tem grandes reservas na Amazônia. Projetos na área de logística, licenciamento ambiental, arquitetura de investimentos, estímulos tributários.
  • PREÇOS INCENTIVARÃO O AUMENTO DA OFERTA NO MÉDIO PRAZO. Em isto acontecendo, a oferta deve passar a demanda e derrubar os preços.
  • FORNECEDORES ALTERNATIVOS (OUTROS PARCEIROS COMERCIAIS): para a safra de verão serão necessários 10 milhões de t de KCl – cloreto de potássio. Destas 3 milhões viriam da Rússia. Alternativa é o Canadá. Canadá é o maior produtor mundial de potássio. O preço está no maior número em 13 anos, ao redor de USD 650/t. Irã também é alternativa. 
  • Tunísia investe via a estatal Gafsa Fosfato. Em 2021 produziu 3,8 milhões de t (fosforitos) deve chegar a 5 milhões em 2022 e 8 milhões em 2024. Argélia também investindo.
  • COMPRAR DA RÚSSIA/BELARUS: Rússia e Belarus tem embargos, mas precisarão continuar vendendo, representando uma janela de oportunidades, caso se consiga tirar o produto de lá. Fertilizantes de Belarus podem sair por portos russos, via trens. Um porto próximo a Leningrado seria adaptado para movimentar fertilizantes bielorrussos. Originar na Rússia, portos que estejam funcionando. Fertilizantes são bens essenciais e as commodities estão com preços elevados e podemos ter questões de aumento da fome.

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com.
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e aluno de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP.
Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, graduada em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP e aluna de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP.

Posts Relacionados

A importância da biodiversidade na agricultura

Já faz algum tempo que o vocabulário agrícola incorporou termos como sustentabilidade, reflorestamento e economia verde. Podemos dizer, sem receio, que isto é uma evidência ...
Leia mais →

ESG no agronegócio – um divisor de águas

A sustentabilidade se impõe a cada dia no ambiente agrícola. De um lado a consciência de muitos produtores, do outro, a pressão do mercado, e, ...
Leia mais →

Nematoides na plantação de soja

Os nematoides  na plantação de soja representam um dos maiores desafios para os produtores brasileiros. Estes vermes microscópicos se alimentam das raízes das plantas, que ...
Leia mais →