Outubro de 2022 marca o lançamento do nosso 11° resumo mensal com os fatos de destaque no agronegócio brasileiro e mundial no último mês começa trazendo a boa notícia da recuperação da economia brasileira! Em setembro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi de -0,3%, o 3° mês seguido de deflação, o que pouco temos visto em outros países do mundo. Em 2022, o IPCA acumulado está 4,09% maior; e nos últimos doze meses, 7,17% superior, apesar de estar abaixo dos doze meses anteriores (era de 8,73%).
Entre as nove categorias pesquisadas, o grupo de Transportes foi o que apresentou maior queda, de 1,98%; seguido da Comunicação (- 2,08%) e de Alimentação e Bebidas (- 0,51%). Nos alimentos, as principais quedas foram: leite longa vida (- 13,7%) e óleo de soja (- 6,27%). Do lado das altas, tivemos os Vestuários (+ 1,77%) e Despesas Pessoais (+ 0,95%) como os dois grupos de maior variação positiva.
Em setembro, o índice de preços dos alimentos da FAO (Agencia das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) registrou a 6ª queda mensal consecutiva, com o indicador alcançando 136,3 pontos, 1,0% menor do que o registrado em agosto (137,9). Apesar da queda, os preços ainda seguem 5,5% maiores do que setembro do ano passado.
O principal motivador da redução foi o óleo vegetal, que registrou retração de 6,6%. Já o açúcar, laticínio e carnes caíram 1 ponto percentual cada. Na outra ponta, os preços de cereais cresceram 1,5% no mês, motivados pela alta de 2,2% no trigo, graças às novas tensões ocorridas entre Rússia e Ucrânia, além da forte seca na Argentina e Estados Unidos.
Estimativas da Conab para a safra 2022/23
No Brasil, a 1ª estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2022/23 de grãos, que iniciou há algumas semanas, a produção foi estimada em 312,4 milhões de t, 15,3% superior a produção de 2021/22 ou 41,4 milhões de t adicionais em apenas um ano! Entre os principais cultivos, a soja se destaca com o maior volume: serão 152,4 milhões de t, 21,3% superior.
No milho, a oferta deve ser de 126,9 milhões de t (+ 12,5%), sendo que o cultivo em 1ª safra vai entregar 28,7 milhões de t (+ 14,6%), na safrinha serão 96,3 milhões de t (+ 12,4%) e na 3ª safra outros 1,9 milhão de t (- 8,5%).
No algodão, a expectativa é de uma oferta de pluma em 2,92 milhões de t, crescimento de 14,7%. Já as culturas de inverno devem somar 11,2 milhões de t (+ 19,3%), puxadas especialmente pelo trigo que deve entregar 9,4 milhões de t (+ 21,9%); os altos preços do cereal e as incertezas no mercado global têm sido vistos de forma oportuna pelos agricultores brasileiros.
Fica aqui, desde já, nossa torcida para que todos estes números se confirmem! Como de costume, todos os meses traremos aqui as próximas 11 estimativas, esperando validar o bom desempenho em setembro de 2023!
Estimativas do USDA em outubro de 2022
Em nível global, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou suas novas estimativas para os grãos em 2022/23 indicando, em outubro de 2022, que o milho deve produzir 1,168 bilhão de t, redução de 0,3% em relação à estimativa de setembro; ou 4 milhões de t a menos.
Os dois principais players que tiverem seus dados revisados foram: a União Europeia em função da forte seca nos países do continente, que viu a estimativa de produção cair de 58,8 milhões de t (setembro de 2022) para 56,2 (outubro de 2022); e os Estados Unidos, que tiveram a oferta reduzida de 354,2 para 352,9 milhões de t. Com este novo resultado, a produção global de milho deve ser 4,0% menor nesta safra do que a passada; são quase 50 milhões de t a menos.
No Brasil, a estimativa de produção se mantém em 126 milhões de t. Estoques finais foram também revistos e estão agora indicados em 301,2 milhões de t, 2% inferior a 21/22.
No caminho contrário, o USDA reviu para cima a estimativa da produção global de soja: de 389,8 (setembro de 2022) para 391 milhões de t (outubro de 2022), o que deve significar uma colheita 10% maior; ou 35,3 milhões de t adicionais da oleaginosa.
No Brasil, principal produtor, a produção deve ser ainda maior do que o esperado e agora está prevista em 152 milhões de t (era 149 em setembro), aumento de 25 milhões de t em apenas uma safra (+ 19,7%). Nos Estados Unidos, a produção foi revista para baixo e está agora indicada em 117,4 milhões de t, 3,4% inferior ao do ciclo passado. Já os estoques finais da soja devem fechar 2022/23 com 100,5 milhões de t, alta de 8,8%.
Comissão Europeia prevê queda na colheita de milho
E no final de setembro, a Comissão Europeia reduziu a sua previsão para a colheita de milho nos países do bloco. Resultado da seca que afeta diversas regiões, a nova previsão indica uma produção de 55,5 milhões de t (a estimativa anterior era de 59,3 milhões de t), o menor valor em 15 anos!
De acordo com a comissão, os dados se referem a reduções na Bulgária, Alemanha, Croácia, Hungria, Romênia e Eslováquia. Como consequência, as previsões para importações de milho pelo bloco foram elevadas para 21 milhões de t (antes 20); e as exportações foram reduzidas de 4 para 3,5 milhões de t.
Soja
De volta ao Brasil, no mercado nacional de soja, o processamento da oleaginosa deve ficar em torno de 49 milhões de toneladas em 2022, segundo estimativas da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). No ano passado, a moagem do grão somou 47,8 milhões de toneladas; ou seja, o crescimento neste ano deve ser de 2,5%.
Em relação a produção, a entidade atualizou seus números indicando que foram produzidas 127 milhões de toneladas este ano (- 8,6%), enquanto que as importações passaram para 500 mil toneladas (- 42,1%). Já as exportações estão com a projeção mantida no mesmo patamar, em 77 milhões de toneladas.
Ainda na soja, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a comercialização da safra 2021/22 no estado alcançou 90% ao final de setembro, avanço de 2,8 pontos percentuais no comparativo com agosto. Apesar da alta, os preços da oleaginosa caíram 1,35% em relação a agosto, fechando em média a R$ 159,37/sc.
Para o ciclo 2022/23, o Imea indica que 28,75% da produção do estado já foi comercializada (a previsão é de 41,8 milhões de t), a preços médios de R$ 149,41/sc, 1,8% superiores aos negociados em agosto.
Café
No mês de setembro, a Conab também divulgou a 3ª estimativa para a safra brasileira de café em 2022. Com a colheita praticamente finalizada no país em outubro de 2022, os números refletem a consolidação para os principais indicadores no setor. Em relação a produção, o relatório indicou 50,4 milhões de sacas (60kg), uma alta de 6% frente ao ciclo anterior. Apesar do crescimento, a expectativa inicial era bem maior, já que 2022 é um ano característico para bienalidade positiva da produção.
Em Minas Gerais, principal estado produtor, deve haver uma queda de 0,5% na produção de café em 2022, com 22 milhões de sacas (60 kg). A redução é resultado dos impactos que o clima (especialmente as geadas e a seca) trouxe aos cafezais, o que prejudicou de forma expressiva a produtividade.
As regiões mais afetadas no estado foram sul e centro-oeste, que registraram média de 19,7 sacas por hectare, quase 18% menor do que em 2021. Com isso, Minas Gerais deve fechar 2022 com queda de 4% na produtividade média do café, com 21,7 sacas por hectare.
Chuvas de granizo preocuparam agricultores no estado de Minas Gerais no início de outubro de 2022. Dados divulgados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) mostram que 17 mil hectares, em 63 municípios, tiveram algum tipo de perda; dados que foram reportados pelos próprios produtores rurais. As atividades mais impactadas foram: a cafeicultura (plantas do tipo arábica) com 13 mil hectares; e a citricultura, com 2,4 mil hectares.
Arroz
Outro resultado marcante que precisamos registrar em nosso boletim de outubro de 2022, foi o crescimento das exportações de arroz em setembro: 50% a mais no comparativo com o mesmo mês de 2021, passando para 199,3 mil toneladas. Já as receitas cresceram ainda mais, 55,6%, somando US$ 63,8 bilhões.
No acumulado do ano (janeiro a setembro), os embarques de arroz somam 1,32 milhão de toneladas, com receitas em US$ 401,9 milhões; crescimentos de 61,5% e 52,6%, respectivamente, no comparativo com o mesmo período do ano anterior. Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz).
Citricultura sob ventos destrutivos
Na cadeia da citricultura, um fato que abalou o setor nas últimas semanas foi a passagem no furacão Ian na costa dos Estados Unidos, especialmente na região oeste do estado da Flórida. Com ventos de mais de 240 km/h e classificado na categoria 5, o furacão causou a queda de frutos em diversas regiões, impactando de forma expressiva a próxima safra de laranja no 2° principal estado produtor em nível global.
Os impactos ainda estão sendo calculados pelos órgãos do setor desde os primeiros dias de outubro de 2022. Na última estimativa do USDA, relativa ao ciclo passado, 2021/22, a produção de laranja na Flórida havia sido projetada em 41 milhões de caixa de 40,8 kg, 12 milhões a menos do que o produzido em 2020/21. Este é o menor valor desde 2017/18, quando outro furacão, o Irma, reduziu a produção de 68 para 45 milhões de caixas. Precisamos acompanhar a avaliação dos estragos no campo, mas a citricultura mais uma vez com variações violentas!
Condições climáticas afetam o VBP
Na revisão de outubro de 2022 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) no ano foi indicado em R$ 1,188 trilhão, valor que deve ser 0,6% menor do que o de 2021.
A queda é explicada pelas condições negativas de clima na região sul ao longo da safra, o que prejudicou especialmente a cultura da soja, além da redução do VBP de cadeias da pecuária como a da carne bovina, da carne suína e do frango.
Entre as cadeias agrícolas, o VBP deve somar R$ 821,2 bilhões (+ 0,9%) e nas da pecuária o indicador deve fechar 2022 com R$ 367,2 bilhões (- 3,8%). As culturas com maior destaque em termos de crescimento do VBP em 2022 deverão ser o trigo (+ 37,8%), o café (+ 31,3%), o algodão (+ 26,2%) e o milho (+ 12,9%). Vamos seguir acompanhando!
PIB do agronegócio
No 1° semestre de 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio registrou queda de 2,5% segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo as organizações, o principal fator motivador da queda foi a alta nos custos de produção do setor e a tendência de manutenção (e em alguns casos leve queda) de produtos agropecuários.
Olhando para os segmentos, o ramo agrícola registrou queda de 2,7%, enquanto que o PIB pecuário ficou 1,8% menor. Como resultado da queda no PIB do agronegócio no 1° semestre, Cepea e CNA reviram a participação geral do agro no PIB total do Brasil para 25,5% em 2022. Em 2021, a participação havia sido de 27,5%.
Fertilizantes e bioinsumos
No mercado de fertilizantes, a StoneX indicou que houve uma melhora na relação de compra dos principais adubos do mercado nos últimos 6 meses, com uma redução de preços de até 50% desde abril. No comparativo entre outubro de 2022 e outubro de 2021, temos: as cotações da ureia estão em US$ 648/t (- 2,7%); do MAP (fosfato) em US$ 660/t (- 8,2%); e do Potássio em torno de US$ 663/t (- 13,3%). As cotações em questão consideram preços negociados no Porto de Paranaguá (PR).
Ainda sobre fertilizantes, em julho, a entrega destes produtos para agricultores (por meio dos canais de distribuição) caiu 29,4% na comparação com julho de 2021: ao todo, foram 3,5 milhões de t entregues, de acordo com a Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda). No acumulado do ano (janeiro a julho), 21,7 milhões de t de fertilizantes foram entregues no país, 9% a menos do que o mesmo período do ano passado.
E segundo dados da Fretebras, os fretes do agronegócio cresceram 33,2% no 1° semestre de 2022. Entre os produtos que registraram maior aumento no volume estão o trigo (+ 182,5%), o açúcar (+ 75,4%) e o milho (+ 64,7%). Por outro lado, o produto com maior volume transportado foi os fertilizantes, que responderam por 25,6% do total de cargas do setor.
E fechamos nosso resumo no ramo de bioinsumos: durante a safra 2020/21, foram movimentados R$ 1,7 bilhão ou US$ 330 milhões com as negociações de bioprodutos no Brasil, aponta um estudo da Kynetec. De acordo com o relatório, 130 empresas estavam atuando no ramo de bioinsumos na safra em questão.
Agora que encerramos outubro de 2022, destacamos os cinco fatos do agro para acompanhar em novembro são:
- Evolução do plantio da safra brasileira de grãos em 2022/23. De acordo com o acompanhamento das operações da Conab, estamos com um ritmo muito positivo, no mesmo nível ou até pouco melhores do que os registrados no ciclo passado. Vamos agora acompanhar como será o desenvolvimento inicial (emergência e vegetativo) das culturas, torcendo para um bom regime de pluviosidade e arranque inicial também positivo.
- O andamento e a finalização da colheita norte-americana de grãos. Com o início do inverno na região meio-oeste dos Estados Unidos, este mês de novembro representará a conclusão da safra por lá. Vale lembrar que o plantio foi tardio este ano e que o ritmo das operações será decisivo para que as lavouras não sejam prejudicadas pelo clima nesta fase final. Hora de acompanhar este progresso e os números.
- Vale aqui direcionar um dos pontos para o continente europeu. Além da crise econômica que atinge o continente, agora as preocupações também se voltam para a forte seca que tem afetado cultivos na região, como vimos aqui na coluna, jogando para baixo a produção de milho, açúcar e outros produtos. Mais um fator que tende a elevar ainda mais os preços por lá e piorar a questão da economia e inflação. Precisamos ficar de olho nisso, uma vez que o mercado já estima uma recessão de grande impacto no próximo ano!
- Seguir de olho no conflito entre Rússia e Ucrânia, que se intensificou nos últimos dias e tem tomado outras proporções, com novas incertezas relacionadas aos portos do Mar Negro, possíveis novos cortes no fornecimento de gás para a Europa e até mesmo maior envolvimento de outros países nas discussões. Estamos torcendo pela paz o quanto antes, mas já sabemos que os impactos econômicos virão e com grandes proporções.
- Por fim, acompanhar dia-a-dia os embates políticos para as eleições de 2° turno no Brasil, no próximo dia 30 de outubro de 2022, tanto para a posição presidenciável como para governadores ainda não eleitos. Novembro será um mês de avaliação do mercado em relação a decisão que for tomada pelo povo brasileiro, ou seja, o entendimento de quais caminhos e/ou políticas poderão ser tomadas a partir do próximo ano. Com toda a complexidade que já estamos vivendo, precisamos torcer para que os efeitos sejam positivos.
O Agrivalle Markets 11: Outubro de 2022 foi elaborado por:
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com.
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e aluno de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP.
Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, graduada em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP e aluna de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP.